O álcool é seguramente a droga mais relacionada ao uso abusivo. Apesar dos inúmeros trabalhos de pesquisa que comprovam os malefícios que produz à saúde, ainda persiste o mito que “alguns goles” não são significativos em relação à diminuição do desempenho psicomotor na realização de certas atividades de risco como, por exemplo, o mergulho autônomo amador.
O álcool é um depressor das atividades do sistema nervoso central. É uma droga lícita que tem efeitos dependentes da dose consumida. Existe o consenso de que a ingestão de álcool antes de executar tarefas que exigem psicomotricidade resulta em desempenhos ruins e risco aumentado de perda de controle. Isto é válido mesmo que a pessoa se sinta bem e que aparentemente esteja normal em seu comportamento.
O álcool tem efeito direto sobre a transmissão e condução nervosa, funcionando como um narcótico. Parece claro que a performance motora está prejudicada em função dos seus efeitos depressores sobre a atividade do sistema nervoso central e dos nervos periféricos que carregam sinais nervosos aos músculos resultando em movimento. Ou seja, pelo retardo na condução do estimulo nervoso que ele provoca em o todo o sistema nervoso há um prejuízo na realização de tarefas que exijam da psicomotricidade.
Especificamente está bem documentado os efeitos do álcool na coordenação, no discernimento e no raciocínio mental sendo que estas alterações têm implicações óbvias na capacidade de um mergulhador realizar as tarefas pertinentes ao mergulho seguro. Essa redução de capacidade também se aplica ao período de ressaca.
Foi observado que o tempo de reação, a performance de avaliação visual, a atenção concentrada, a capacidade de procurar informação em tarefas que dividem a atenção, o julgamento e execução de tarefas motoras, tão necessárias à prática do mergulho seguro estão diminuídas quando o álcool está ou esteve no corpo nas últimas 24 horas.
O sujeito que usa álcool pode achar que não está prejudicado na baixa dos desempenhos citados anteriormente e até mesmo não parecer afetado quando observado por outros. Mas, definitivamente e de forma bem comprovada cientificamente, ele está comprometido. Estas alterações persistem por um considerável período de tempo. As pesquisas demonstram que há uma redução na capacidade individual de processar informações particularmente no que se refere à realização de tarefas que requerem divisão de atenção, que persiste por muitas horas após o nível de álcool no sangue chegar a zero. Isto se deve ao fato de mesmo após o álcool ter chegado a níveis não detectados, ele não foi eliminado totalmente e ainda está distribuído em outros compartimentos do nosso organismo. A eliminação total demora tempo e requer o equilíbrio de distribuição continuado entre os vários compartimentos até eliminação completa. Ou seja, apesar do álcool não ser detectado em um determinado momento no sangue, não quer dizer que ele foi totalmente eliminado do interior de nossas células nervosas.
O álcool também é um potente diurético. Ele pode promover desidratação antes, durante e após o mergulho. A desidratação é considerada uma das causas mais importantes na doença descompressiva. Portanto, o uso do álcool potencializa a ocorrência de doença descompressiva. Isto é valido para uso antes ou depois do mergulho
A doença descompressiva tem sinais e sintomas decorrentes de lesões provocadas no sistema nervoso central. O uso de álcool seguindo um mergulho pode potencialmente mascarar alguns desses sintomas. Lembro que ao final de uma temporada de mergulhos em dias sucessivos o risco de doença descompressiva com manifestações tardias aumenta muito e os sintomas decorrentes podem ser minimizados pelo uso do álcool.
Além dos problemas relacionados a DD, o álcool aumenta as chances de desenvolver narcose pelo nitrogênio. Isto se deve a um efeito aditivo ao nitrogênio como depressor do sistema nervoso central.
Portando, não beba antes e nem depois do mergulho – permita ao seu organismo ao menos 2 dias de intervalo entre essas ações
Bons mergulhos… sóbrio.
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